Todo mundo sabe que sentir ciúme é uma das sensações mais amargas da vida. Afinal, quem é que nunca o experimentou, em menor ou maior intensidade? Em um nível muito alto, porém, o ciúme pode provocar vários danos à vida da pessoa. E ainda, segundo especialistas, ser bastante revelador. Confira, a seguir, algumas informações importantes sobre esse sentimento tão complexo
- A impressão de não conseguir mais se libertar do sentimento caracteriza o ciúme de grau patológico. Ele guia a vida da pessoa e torna a sua rotina (e a do parceiro) um verdadeiro caos. “O ciumento sente-se traído e incomodado o tempo todo, não consegue se concentrar no trabalho nem em outras atividades. Vira um escravo do ciúme”, afirma a psicanalista Taty Ades. O ciúme patológico exige tratamento psiquiátrico e, se não trabalhado adequadamente, tem o risco de se tornar o estopim de crimes passionais.
- Quem é extremamente ciumento, muitas vezes, vive uma relação doentia, sem se dar conta disso. O parceiro que é objeto do ciúme precisa ser cobrado, vigiado e controlado para se sentir amado. “Nesses relacionamentos doentios, há um vínculo que nunca é pacífico. Eles são motivados pelas endorfinas das brigas e do ciúme”, diz a psicanalista Taty Ades.
- Por trazer diversas possibilidades, o universo virtual contribuiu muito para o aumento do número de ciumentos e para o sentimento se tornar ainda mais penoso. Nota-se que as pessoas mais velhas, de gerações que não estão habituadas às redes sociais, são mais sensíveis à traição virtual ou à sua suspeita.
- Em muitos casos, a pessoa extremamente ciumenta acaba querendo mesmo que o outro traia. É como se ela buscasse, inconscientemente, a traição real para parar de sofrer, de sentir a necessidade de ir atrás, de precisar achar provas da infidelidade. Assim, dirá a si mesma: “Eu tinha razão”.
- Também não é raro que o ciumento queira, inconscientemente, trair, por isso transfere seus desejos, impulsos e fantasias para o outro. É o que o psicanalista Sigmund Freud (1856-1939) denominou “ciúme projetado”. É muito comum que homens ou mulheres ciumentos sejam os que mais traem.
- A psicóloga Cristiane Pertusi, mestre em Desenvolvimento Humano pela USP (Universidade de São Paulo), diz que o machismo é uma maneira comum e mais contida de os homens manifestarem o ciúme. “Eles camuflam o que sentem através de comportamentos de controle, proibindo ou tentando proibir a mulher de vestir determinada roupa ou de ir a determinado lugar”, explica.
- Muitos homens e mulheres ciumentos sofrem mais por questões fantasiosas (imaginar a parceira com outro, achar que o namorado em viagem vai sair com todo mundo) do que com fatos reais. Isso acontece porque os temores que movem o ciúme são, em grande parte, do mundo psíquico (ou seja, inconscientes). Embora os pensamentos não encontrem eco na realidade, causam o mesmo incômodo de fatos ruins verdadeiros.
- O ciúme, em geral, surge na infância, por volta dos três ou quatro anos de idade. É nessa fase que a criança sente-se mais próxima de um dos pais e tenta “excluir” o outro. Um fator predominante na infância é a relação fraterna, caracterizada por sentimentos de rivalidade, ciúme e inveja. As experiências desse período podem chegar à vida adulta e se manifestarem nas relações afetivas.
- O ciúme faz parte da essência do ser humano e é encontrado de maneira proporcional entre homens e mulheres. Porém, o sexo masculino é mais racional, enquanto o feminino é mais emocional. “Normalmente, o homem tem ciúmes daquilo que vê e a mulher tem ciúmes daquilo que sente”, declara a psicóloga Lizandra Arita.
- Embora o ciúme, na maior parte das vezes, esteja atrelado à baixa autoestima, nem todas as pessoas ciumentas têm uma imagem ruim ou não gostam de si mesmas. O ciúme vem acompanhado de outros sentimentos, como insegurança, transtornos emocionais, descontrole, possessão etc. E cada caso deve ser analisado individualmente.
- Para o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor do livro “Ciúme — O lado amargo do amor” (Ed. Ágora), o verdadeiro ciumento sempre encontra motivos para desconfiar de seu parceiro. Por mais que o outro nada faça, tudo é motivo de desconfiança e profunda investigação de seus atos.
- A pessoa muito ciumenta vive desconfiada de seu parceiro e, perante uma instabilidade que julgue ameaçadora (um novo colega de trabalho, um curso que a namorada faça, um atraso no horário combinado), experimenta um desconforto emocional e tem pensamentos intrusivos de que pode estar sendo vítima de traição. No ciúme patológico, a pessoa tem absoluta certeza da infidelidade.
- Para a psicóloga e terapeuta de casais Triana Portal, é importante lembrar que o ciúme é um sintoma. Por trás de uma crise ciumenta, pode existir um apelo para o amor. “O ciumento quer a atenção do outro, mas na verdade é uma busca pelo amor próprio. Não confiar no amor da pessoa amada equivale a não acreditar no próprio valor”, diz a especialista.
- Ao atormentar o parceiro com suas desconfianças, o ciumento pode despertar nele a curiosidade ou a vontade de fazer aquilo. Além disso, acusações e brigas motivadas pelo ciúme desgastam a relação, abrindo portas para uma possível traição. “O parceiro fica cansado de ser acusado, controlado, cobrado, mal-interpretado e começa a prestar mais atenção no mundo à sua volta”, explica a psicóloga e terapeuta de casais Triana Portal.
- O ciúme pode servir também para tentar esconder uma traição. A pessoa é infiel e demonstra ciúme para distrair o outro. Ao colocar em evidência a vida do parceiro, tira a atenção dele de suas próprias atitudes.
- Além da terapia, ciumentos obsessivos podem encontrar apoio para aprenderem a controlar seus próprios sentimentos em grupos de autoajuda, como o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) e o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos).
Fonte:universa.uol