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Tal Pai, Tal Filho…

Jornal Pioneiro - ano 1941Encontrei este artigo escrito por meu pai há 72 anos. Ao lê-lo, fiquei muito surpresa ao ver que em mais de 7 décadas, nada mudou no Brasil.

As pessoas pobres ainda sofrem preconceito e humilhações e a grande maioria não tem oportunidades de mudar a sua vida.

 

Veja o Jornal Original na figura ao lado e a matéria completa abaixo:

 

 

Tal Pai, Tal Filho…

Leone Chamecki

Pioneiro da A.P.P

 

Que culpa tinha ele?

Sim!

Quem poderia culpá-lo?

Se havia culpa, esta não cabia a ele e sim aos que lhe batiam a porta com desprezo.

Com desprezo sim e até com nojo!

Que seu pai fora jogador, alcoólatra e possuía todos os defeitos e vícios capazes de habitar um ente humano, isto lá era verdade.

Mas que tinha ele com isto?

Na escola já era evitado pelos colegas.

Por que seria?

Pela má reputação que seu par gozava?

Sim!

Pois todos os colegas tinham ordens severas de suas mães para não brincarem com o “filho daquele vagabundo”.

Que seu par era vagabundo estava certo.

Mas ele?

Ele que tinha ideias tão nobres?

Na escola não era o melhor da classe, pois lutava com dificuldades, não tinha livros, cadernos, como seus colegas.

A professora gostava muito do filho do Dr. Julio, ele tinha livros novos, roupa cara…

Ele nem roupa tinha.

Nem roupa, pois o modesto ordenado de seu pai era consumido em suas bebedeiras.

Terminando o curso primário, não pode continuar nos estudos, pois o dinheiro que sua mãe ganhava lavando roupa não chegava nem para a comida.

Com a morte de sua mãe, ele empregou-se em um armazém.

Pouco depois era despedido como ladrão.

Há meses que o patão vinha notando a falta de certas mercadorias.

Não podia ser outro…

Tinha que ser ele, pois era filho de um bêbado.

E assim viu-se ele injustamente despedido.

Quis empregar-se novamente, mas a resposta era sempre a mesma:

“não sustento vagabundos, vá trabalhar”.

Diante de tantas humilhações o seu caráter petrificou, odiou a vida e os humanos.

E abandonado por todos, andava ele, maltrapilho, sem casa e sem recursos.

E assim viu-se arrastado para a delinquência, no abandono em que o destino o atirou, no pórtico da vida.

Após muitas decepções viu-se ele por necessidades diante do roubo, mais tarde a bebida e de degrau em degrau ele ganhou a reputação de seu pai.

“tal pai, tal filho”.

“tal pai, tal filho”.

Estará certo este provérbio?

Se aquele menino não tivesse sido privado da escola, de boa companhia, estaria na situação em que se encontra?

Certamente que não!

E a quem cabe a culpa? A ele? Não!

Pois ele nem sequer tinha quem lhe orientasse nos primeiros passos da vida.

Seu pai, sempre fora de casa e quando a ela voltava encontra-se sob efeito do álcool.

Sua mãe, coitada, sempre trabalhando para o sustento da casa.

Vitima de seu pai, vitima da maldade dos homens, vitima do destino.

Vitima do destino.

Pois ele não teve a felicidade de encontrar a tabua da salvação como outros encontraram.

Sim!Ele não era o único naufrago ao sabor das ondas do mar da vida.

Mas ele não encontrando apoio submergiu.

Outros mais felizes encontraram o pioneirismo e salvaram-se.

E graças a esta sublime instituição tornaram-se homens uteis a sociedade, á Pátria e á humanidade.

Pioneiros, centenas de crianças pobres e ricas (em dinheiro) precisam ser salvas e só tu, oh, pioneiro, podes realizar este milagre, indicando lhes o caminho da verdade.

A verdade que torna um ser que poderia ser nocivo à coletividade em um homem nobre e útil.

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