Você alguma vez se sentou à mesa, deu de cara com uma porção de taças diferentes e se sentiu completamente confuso com a variedade? Apesar de parecer bobagem, existem razões bem específicas para as taças terem formatos e tamanhos distintos, e você pode tirar algumas das suas dúvidas a seguir:
A taça
A base tem uma função bastante óbvia, que é evitar que a taça caia. Dela sai a haste, que serve para que as pessoas segurem a taça sem tocar o bojo — calma, já vamos falar mais sobre ele —, evitando, assim, que o calor das mãos altere a temperatura da bebida, pois alguns tipos de vinho devem ser servidos frios.
Além disso, a haste também serve para evitar que as pessoas segurem as taças muito próximo da bordinha do bojo. Isso porque as nossas mãos possuem um odor natural, sem falar que muitas vezes elas mantêm o cheiro de sabonetes, cremes ou loções, e tudo isso pode interferir no aroma do vinho e afetar a nossa percepção do sabor. Sendo assim, a haste também serve para que as mãos fiquem longe do nosso nariz.
O bojo, como você já deve ter deduzido, serve para conter a bebida, e o ideal é que ele seja mais largo do que a borda da taça para que o vinho possa “dançar” dentro dele. E você já deve ter visto as pessoas rodopiando a bebida antes de dar aquela cheiradinha e bebericá-la, não é mesmo?
Pois a prática de rodopiar o vinho faz com que os compostos voláteis sejam liberados. Além disso, o pequeno redemoinho que se forma ajuda a direcionar os odores para o centro da taça e deixá-los mais concentrados. Isso permite que, quando cheiramos o conteúdo da taça, até as nuances menos intensas sejam percebidas. Bem, pelo menos para que os enólogos percebam esses aromas todos.
Sendo assim, quanto mais largo for o bojo, maior será a superfície pela qual o vinho pode se mover — e quanto maior a superfície, maior será a quantidade de compostos voláteis liberados. Aliás, vale lembrar que as taças só devem ser preenchidas até um terço de sua capacidade, justamente para permitir que a bebida tenha espaço suficiente para rodopiar livremente.
Por último, a borda da taça é o ponto de contato entre a bebida e a boca, e quanto mais fina ela for, mais discreta será a transição do vinho até o nosso paladar — permitindo que a nossa atenção se concentre mais na percepção dos sabores em nossa boca e menos na sensação do material com o qual a taça é feita.
O básico
Apesar de haver centenas de formatos para taças — sim, centenas! — para servir as mais diferentes variedades de vinho que podemos encontrar pelo mundo, basicamente existem três tipos: taças para vinho tinto, branco e espumante.
As taças para vinho tinto costumam ser relativamente altas e são aquelas que contam com o bojo bem mais largo do que a borda. Por outro lado, as taças para vinho branco são um pouco menores, e seus bojos são menos largos com respeito à borda do que as taças para vinho tinto. Já as taças para espumante são aquelas mais altas e estreitas e são conhecidas pelo nome de flûte — ou flauta.
Especificidades
Apesar de termos descrito três tipos básicos de taça, já que estamos no assunto mesmo, achamos necessário mencionar algumas especificidades. Embora as taças para vinho tinto tenham o estilão que comentamos acima — com bojo largo e borda estreita —, existem duas variedades mais conhecidas: a Bordeaux e a Borgonha.
As taças Bordeaux são usadas para servir vinhos ricos em tanino e com sabor mais encorpado, como é o caso dos feitos com as uvas merlot, syrah e cabernet sauvignon, por exemplo. Essas taças possuem borda mais fechada e bojo grande para que os aromas fiquem mais concentrados e não se dispersem, além de permitirem que os toques frutados da bebida cheguem antes do que os taninos em nossas bocas.
Por outro lado, as taças Borgonha têm formato que lembra um balão, e seu bojo é mais largo do que o das Bordeaux. Elas são usadas para servir vinhos mais concentrados e complexos — como os feitos com as uvas pinot noir e os espanhóis produzidos em La Rioja —, já que elas permitem que ocorra mais contato entre a bebida e o ar, liberando os compostos voláteis mais depressa.
Sendo assim, este tipo de taça é indicado para que os aromas possam ser apreciados com mais detalhes, e seu formato de balão permite que quando o vinho chegue à boca atingindo a ponta e a região central da língua primeiro, reduzindo a acidez e acentuando os demais sabores da bebida.
As taças para vinho branco, conforme já mencionamos, são um pouco menores do que as taças para tinto. Isso se deve ao fato de essa variedade da bebida ser apreciada fria, e não em temperatura ambiente, como os tintos. Portanto, os vinhos brancos são servidos em quantidades um pouco menores para que sejam tomados antes que o calor afete sua temperatura.
Com respeito às taças para espumantes, a altura das flautas permite que as bolhas fiquem dispersas por toda a bebida, evitando que ela perca essa característica rapidamente. Além disso, não é necessário rodopiar esse tipo de vinho, pois as próprias bolhas se encarregam de liberar o aroma.
Aliás, o ideal é que as flautas tenham pequenos entalhes no fundo do bojo para permitir que as bolhas se formem — já que elas podem não se formar quando a superfície da taça é perfeitamente lisa. Mas, além dos vinhos tintos, brancos e espumantes, não podemos nos esquecer de que ainda existem os rosados e os doces e fortificados!
Detalhes
Os vinhos rosés costumam contar com os aromas dos brancos e os taninos dos tintos, e suas taças normalmente são menores do que as usadas para servir os vinhos brancos, mas com bojos um pouco maiores. Esse formato permite que a acidez da bebida fique mais acentuada, equilibrando, dessa maneira, o sabor mais adocicado — característico desse tipo de vinho.
Para saborear os vinhos doces e fortificados, as taças ideais são aquelas com bordas e bojos estreitos, pois eles são servidos em menores quantidades. Além disso, esse formato de taça permite que a bebida chegue primeiro à ponta da língua, que é a área na qual os sabores adocicados são percebidos com mais intensidade.
Contudo, não é necessário que você tenha uma enorme coleção de taças em casa para apreciar diferentes tipos de vinho. Na falta de uma flauta, por exemplo, você pode usar uma taça para vinho branco — mas, vamos combinar que bebericar uma bela champagne em qualquer tipo de taça que não seja uma flûte seria o equivalente a saborear uma cerveja artesanal gourmet em um copo de plástico.
Já os vinhos mais maduros e encorpados também podem ser servidos em taças para vinho branco, para que possamos capturar melhor o sabor da bebida, e isso pode ser feito com os rosados também. E ainda existe a taça ISO — sério! —, que foi desenvolvida nos anos 70 e serve para todos tipos de vinho. Utilizada com frequência nas sessões de degustação, ela tem o bojo grande e a borda estreita e, no geral, não é muito grande.
Cristal ou vidro?
Na hora de escolher quais serão as suas taças, o primeiro passo é selecionar as sejam totalmente cristalinas e incolores, pois parte da experiência de degustar a bebida está em apreciar suas tonalidades. Já com respeito aos materiais com os quais as taças são produzidas, os mais comuns são o cristal, o cristal de vidro e o vidro.
Basicamente, a diferença entre elas está no teor de chumbo, elemento empregado em sua fabricação. Assim, enquanto as taças de cristal podem conter até 24% desse metal, as de cristal de vidro contam com cerca de 10%, e as de vidro são livres do elemento. No entanto, não pense que essa “diferença” é coisa pouca.
O chumbo confere mais leveza e delicadeza às taças, além de torná-las mais resistentes. Isso permite que elas sejam mais finas e, portanto, suas bordas sejam menos espessas — ao contrário das taças de vidro, cujas bordas são bem mais espessas. Além disso, o metal também faz com que a superfície das taças seja mais porosa.
Assim, quando “rodopiamos” o vinho no interior da taça durante a degustação, fazemos com que as moléculas se choquem contra a parede mais áspera e se quebrem — promovendo a liberação dos aromas da bebida.
FONTE(S)
MOTHER NATURE NETWORK/ NOVA CADAMATRE E ROBIN SHREEVES