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Reputação arruinada

Globo Repórter 19/04/2013

Reputação arruinadaMulher tem sua intimidade duplicada 7 milhões de vezes na internet

A velocidade da Internet e a exposição virtual provocaram um desastre na vida de Rose Leonel.

Se você anda por aí, distraído, pode não se dar conta, mas as lentes ganharam mesmo um alcance assustador.

“Não tem mais onde se esconder, então você pensa que escapou e de repente caiu na rede, não é peixe, pode ser um desastre”, ressalta Carlos.

A velocidade da Internet e a exposição virtual provocaram mesmo um desastre na vida de Rose Leonel. Fotos e vídeos de momentos íntimos da jornalista, foram parar em milhões de sites no mundo inteiro.

“O que sofri foi um assassinato moral. Um assassinato psicológico, um assassinato emocional”, afirma Rosemary Leonel, jornalista.

Este crime deixa rastros que o tempo não consegue apagar. “Infelizmente faz parte da minha apresentação: ‘É, muito prazer, eu sou Rose Leonel e eu sou vítima de um crime na internet’. Isso define a minha vida de forma irreparável”, diz.

Ela ainda sofre: “As pessoas me olhavam e ainda me olham com reprovação me olham com condenação”, conta.

Rose diz que foi o ex-companheiro quem fez as fotos e vídeos e quando a história de amor acabou, jogou as imagens na rede. “Eu terminei o relacionamento com ele, quando eu terminei ele falou que ia me destruir: ‘Se eu não fosse dele eu não seria de mais ninguém’”, lembra.

Na época ela era colunista e apresentadora de televisão no Paraná, perdeu o emprego, perdeu amigos, perdeu o chão.

“É irreparável pra mim, pros meus pais, pros meus filhos, pros filhos deles. É uma ferida aberta, nunca vai fechar. Você saber que os seus filhos vão ter vergonha de você por toda a vida”, conta Rose.

O filho foi morar em outro país. “Quase não suportei esta dor. De todas as dores. O meu filho não quer mais voltar para o Brasil por conta disso, com vergonha. E a minha filha sofre. Ela entende, mas ela sofre. Até hoje ela é muito reservada, quase não tem amigos por conta disso”, diz Rose.

O perito digital Wanderson Castilhos conseguiu retirar boa parte do material que estava na Internet, mas garante que o trabalho não tem fim. “Se torna praticamente um vírus. Encontrei em torno de 7,5 milhões de links relacionados às fotos. Eu consegui tirar 95%. É impossível tirar completamente”, afirma.

Castilhos diz que encontrou provas de que foi o ex-companheiro de Rose quem jogou as imagens na rede. “A Justiça já aceitou estas provas, tanto é que ele foi condenado em primeira instância”, explica.

O ex-companheiro de Rose não quis dar entrevista. Por telefone o advogado falou que ele é inocente. A jornalista acaba de criar uma ONG, busca apoio jurídico e psicológico para mulheres que como ela tiveram a reputação destruída na Internet.

“Eu quero poder cercar esta mulher, dar caminhos, mostrar que ela não está sozinha. Dar um apoio que eu não tive”, afirma Rose.

As mulheres são as vítimas mais comuns de crimes como este. “Até porque, por hábito, a mulher entende que vai ser uma prova de amor ela aceitar que seja registrada sua intimidade”, explica Patrícia Peck Pinheiro, especialista em direito digital.

E muitos homens confundem: “Uma coisa é você poder tirar a foto ou fazer um vídeo e outra totalmente diferente é a publicação, que tem que estar sempre autorizada”, revela Patrícia.

Publicar, ou simplesmente mostrar imagens de outra pessoa em momentos íntimos já caracteriza crime. “Que é o expor a honra daquela minha namorada sem ela saber para outra pessoa, por mais que a outra pessoa seja meu amigo”, ressalta a especialista.

Ter a privacidade invadida deu a Rose a dimensão do risco.  “A gente não sabe, mas podemos dormir com o inimigo. E daí eu me pergunto: ‘em que sentido a gente pode confiar no outro?’”, completa Rose.

 

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